terça-feira, 11 de outubro de 2011

Por que os cães se cheiram uns aos outros?

        Quando os cães governavam-se a si mesmos, havia dois grandes reinos chefiados por poderosos cães. Cada um deles gabava-se de ter mais súditos e riquezas do que o outro. Embora fossem adversários, viviam em paz, e essa trégua só foi quebrada no dia em que um deles se apaixonou pela irmã do outro chefe. Perdido de amores, ele se dirigiu pessoalmente aos domínios do rival:    

 
– Meu nobre amigo – disse o cão apaixonado -, fiz essa longa e cansativa viagem até o teu reino para pedir a mão da tua irmã em casamento.    
 
– Com a minha irmã! – respondeu aos gritos o outro cão –, não quero que você case com ela de jeito nenhum.    
 
Humilhado com a resposta, o cão desdenhado voltou furioso para sua corte. Assim que chegou, reuniu o Conselho de Guerra e mandou chamar um fiel servidor para que levasse a seguinte mensagem ao seu inimigo:    
 
– Diga-lhe que como me recusou a mão da irmã, que se prepare para lutar, pois dentro de poucos dias irei marchar com meu exército para destruí-lo.    
 
O mensageiro ouviu tudo bem direitinho e já ia partindo quando um dos conselheiros reais o chamou:    
 
– Você não pode sair assim todo sujo – disse o conselheiro real. – A sua cara e a cauda estão imundas.    
 
Os criados deram um longo banho no mensageiro e perfumaram a cauda dele com os melhores perfumes do reino, pois de acordo com os costumes daquele tempo, um mensageiro tinha que se preparar adequadamente para executar uma tarefa.    
 
No caminho, o mensageiro achou-se tão cheiroso e galante que começou a procurar esposas para ele mesmo, deixando de lado a missão que o chefe havia lhe confiado.    
 
É por isso que os cães andam sempre atrás uns dos outros, cheirando as suas caudas, para verem se acham o mensageiro perdido.  

 

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Conto Africano - POR QUE A GIRAFA NÃO TEM VOZ

     Houve uma época em que os animais da floresta falavam todos a mesma língua. A girafa gostava de se vangloriar dizendo que era a rainha dos bichos porque tinha o pescoço mais comprido. Como era mais alta que os outros, costumava ficar olhando para o céu e conversando sozinha consigo mesma.
Os outros bichos logo começaram a se irritar com essa mania da girafa, especialmente na hora em que tentavam tirar uma soneca depois do almoço.
Irritados, começaram a traçar um plano para silenciar a chata da girafa. O leopardo foi até a grandalhona e provocou:
___ Você fica aí contando vantagem o dia inteiro, mas tem coisas que não sabe fazer.
A girafa, que era muito atrevida, gritou:
___ O que por exemplo?
___ Correr mais rápido do que eu _ desafiou o veloz leopardo.
___ Aceito _ respondeu a girafa, sem pestanejar. ___ Me avise a hora e o lugar.
O dia da corrida foi logo marcado. O leopardo, certo que ia vencer, convocou todos os animais da floresta para vê-lo derrotar a grandona. Os bichos correram para se divertir e torcer pela derrota da girafa.
Assim que foi dada a largada, os dois saíram em disparada lado a lado, mas logo o leopardo tomou a dianteira. Corria tanto que acabou chocando-se contra uma árvore e teve de abandonar a competição.
A bicharada ficou muito decepcionada ao ver a girafa se tornar campeã. Depois da vitória, ela ficou mais faladora ainda.
Ninguém tinha mais paciência para aguentar aquele blá-blá-blá infindável. Até que o macaco, esperto como ele só, resolveu dar um jeito na questão.
     Ele tirou um bocado de resina de uma árvore e misturou-a na ramaria que a girafa costumava mastigar. Depois, escondeu-se, esperando a falastrona chegar para comer.
     As folhas prenderam-se no comprido pescoço da girafa e, por mais que ela tossisse e cuspisse, ficaram grudadas em sua garganta, calando-a para sempre.   Daí em diante seus descendentes passaram a nascer sem voz.
***Fonte: Histórias Africanas para Contar e Recontar - Rogério Andrade Barbosa***

Lenda do tambor africano

     Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a idéia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua.

     Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.

     A Lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio.
     O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido.
     Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.
 
 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Contos Africanos: A Gazela e o Caracol

 Uma gazela encontrou um caracol e disse-lhe:
__ Tu, caracol, és incapaz de correr, só te arrastas pelo chão.
O caracol respondeu:
__ Vem cá no Domingo e verás!
O caracol arranjou cem papéis e em cada folha escreveu: «Quando vier a gazela e disser "caracol", tu respondes com estas palavras: "Eu sou o caracol"». Dividiu os papéis pelos seus amigos caracóis dizendo-lhes:
__ Leiam estes papéis para que saibam o que fazer quando a gazela vier.
No Domingo a gazela chegou à povoação e encontrou o caracol. Entretanto, este pedira aos seus amigos que se escondessem em todos os caminhos por onde ela passasse, e eles assim fizeram.
Quando a gazela chegou, disse:
__ Vamos correr, tu e eu, e tu vais ficar para trás!
O caracol meteu-se num arbusto, deixando a gazela correr.
Enquanto esta corria ia chamando:
__ Caracol!
E havia sempre um caracol que respondia:
__ Eu sou o caracol.
Mas nunca era o mesmo por causa das folhas de papel que foram distribuídas.
A gazela, por fim, acabou por se deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O caracol venceu, devido à esperteza de ter escrito cem papéis.

Conto Africano

Numa tarde de Verão, depois dos cantos e danças, todos se sentaram em redor do chefe da tribo. Ele fixou o olhar num dos seus guerreiros e começou a falar-lhes assim:
- Se alguém fizer mal ao teu irmão e tu quiseres vingar-te matando o assassino, faz o seguinte; senta-te, enche o cachimbo e fuma. Compreenderás então que a morte é um castigo desproporcionado e resolverás dar-lhe apenas uma boa sova.
Antes, porém, enche novamente o teu cachimbo e fuma até o esvaziares. Convencer-te-ás que, em vez da sova, bastaria uma boa repreensão. Se, entretanto, encheres o cachimbo pela terceira vez e ficares a reflectir até o esvaziares, ficarás persuadido que é melhor ir ao encontro do inimigo e abraçá-lo.

in "Bons dias" dePedrosa Ferreira